Editora: Companhia das Letras
Páginas: 318
Em homenagem a semana em que José Saramago completaria 92
anos, pretendo falar um pouco sobre O Homem Duplicado. Romance escrito em
2002 pela editora Caminho, em Portugal e, depois pela editora Companhia das
Letras, no Brasil.
Os romances de José Saramago são sempre muito bem ordenados,
é claro, mas o cuidado do escritor com a narrativa de O Homem Duplicado é prodigioso.
Não é demasiado falar que cada lexia usada no texto foi selecionada a dedo. Não
existe nenhuma informação supérflua – e, se você acha que alguma parte é
somente para encher mais páginas, provavelmente você não entendeu nada do que
se trata a história. Saramago tem por assinatura a questão da ordem e do caos.
Vimos isso em Ensaio sobre a Cegueira e Ensaio sobre a Lucidez, em que o
imperativo é saber lidar com esses conflitos extremos até chegar à essência da
verdadeira condição humana.
Em o Homem Duplicado, Saramago nos convida a refletir sobre
a possibilidade de saber o que você faria se descobrisse que tem um sósia,
alguém que é a sua cópia fiel, o mesmo semblante, o mesmo corpo, o mesmo tom de
voz? Na sua cidade residem cinco milhões de habitantes, admirável seria não
haver duas iguais, embora, esclareça-se desde logo, esta história nada tenha a
ver com experiências de clones humanos criados no laboratório de um cientista
maluco. O que fará Tertuliano Máximo Afonso, o sossegado professor de história
que, numa noite tumultuosa, se vê reproduzindo, como em um espelho, no ator de um filme? Seu interlocutor privilegiado (narrador), não à toa
chamado Senso Comum, aconselha-o a não ir em busca da cópia de si mesmo. Mas
nem todos primam pela sensatez, por isso o mundo está do jeito que está.
Tertuliano vai em busca desse outro (eu) e sua vida começa a desabar.
A essa conclusão chegará o leitor que acompanhar o
extraordinário caso de Tertuliano, o homem duplicado. Pois as singularidades
são irredutíveis, e quando um rouba a individualidade do outro, ainda que
simbolicamente, ambos perdem a identidade, sem a qual ninguém vive. Um dos dois está sobrando. O que está em jogo
é a perda da identidade numa sociedade que cultiva a individualidade e,
paradoxalmente, constitui padrões estreitos de conduta e de aparência. Em 'O
homem duplicado', José Saramago constrói uma ficção amparada numa questão
extremamente inquietante - a perda do eu no mundo globalizado.
Eu sou fã desse autor, considero Saramago um dos maiores
nomes da literatura contemporânea. Dentre as obras do escritor que eu mais
gosto estão: A Caverna, As Intermitências da Morte e Memorial do Convento.
Pretendo resenha-las em breve, aqui no canal.
Se você gosta dessa temática, a questão da ordem e do caos e
a instigante oportunidade de refletir a respeito de questões simples, porém
inusitadas, Saramago é o escritor ideal para você. Vale a pena conferir a sua
obra. Quanto a adaptação fílmica de O Homem Duplicado nada posso dizer a
respeito. Pretendo assistir o mais rápido possível e, se for o caso, posto as
considerações aqui.
Um abraço e até mais J
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