COMPARAÇÃO DOS SERMÕES
Hoje é tempo de ser feliz!
Padre Fábio de Melo
A vida é
fruto da decisão de cada momento. Talvez seja por isso que a ideia de plantio
seja tão reveladora sobre a arte de viver.
Viver é
plantar. É atitude de constante semeadura, de deixar cair na terra de nossa
existência as mais diversas formas de sementes.
Cada
escolha, por menor que seja, é uma forma de semente que lançamos sobre o
canteiro que somos. Um dia, tudo o que agora silenciosamente plantamos, ou
deixamos plantar em nós, será plantação que poderá ser vista de longe...
Para cada
dia, o seu empenho. A sabedoria bíblica nos confirma isso, quando nos diz que
“debaixo do céu há um tempo para cada coisa!”.
Hoje, neste
tempo que é seu, o futuro está sendo plantado. As escolhas que você procura, os
amigos que você cultiva, as leituras que você faz, os valores que você abraça,
os amores que você ama, tudo será determinante para a colheita futura.
Felicidade talvez seja isso: alegria de recolher da terra que somos
frutos que sejam agradáveis aos olhos!
Infelicidade,
talvez seja o contrário.
O que não
podemos perder de vista é que a vida não é real fora do cultivo. Sempre é tempo
de lançar sementes... Sempre é tempo de recolher frutos. Tudo ao mesmo tempo.
Sementes de ontem, frutos de hoje. Sementes de hoje, frutos de amanhã!
Por isso,
não perca de vista o que você anda escolhendo para deixar cair na sua terra.
Cuidado com os semeadores que não lhe amam. Eles têm o poder de estragar o
resultado de muitas coisas.
Cuidado com
os semeadores que você não conhece. Há muita maldade escondida em sorrisos
sedutores...
Cuidado com
aqueles que deixam cair qualquer coisa sobre você, afinal, você merece muito
mais que qualquer coisa.
Cuidado com
os amores passageiros... Eles costumam deixar marcas dolorosas que não
passam...
Cuidado com
os invasores do seu corpo... Eles não costumam voltar para ajudar a consertar a
desordem...
Cuidado com
os olhares de quem não sabe lhe amar... Eles costumam lhe fazer esquecer que
você vale a pena...
Cuidado com
as palavras mentirosas que esparramam por aí... Elas costumam estragar o nosso
referencial da verdade...
Cuidado com
as vozes que insistem em lhe recordar os seus defeitos... Elas costumam
prejudicar a sua visão sobre si mesmo.
Não tenha
medo de se olhar no espelho. É nessa cara safada, que você tem, que Deus
resolveu expressar, mais uma vez, o amor que Ele tem pelo mundo.
Não
desanime de você, ainda que a colheita de hoje não seja muito feliz.
Não coloque
um ponto final nas suas esperanças. Ainda há muito o que fazer, ainda há muito
o que plantar, e o que amar nessa vida.
Ao invés de
ficar parado no que você fez de errado, olhe para frente, e veja o que ainda
pode ser feito...
A vida
ainda não terminou. E já dizia o poeta "que os sonhos não
envelhecem...".
Vai em
frente. Sorriso no rosto e firmeza nas decisões.
Deus resolveu
reformar o mundo, e escolheu o seu coração para iniciar a reforma.
Isso prova que Ele ainda acredita em você. E se Ele ainda acredita, quem
sou eu pra duvidar... (?)
Análise dos sermões
São marcantes as diferenças entre a linguagem dos sermões do Padre
Antônio Vieira e Padre Fábio de Melo. No entanto, os textos utilizam
frequentemente figuras de linguagem como metáforas e antíteses. Tais recursos
estilísticos marcam ainda mais a argumentação do gênero, aproximando os
interlocutores.
No sermão Hoje é tempo de ser
feliz, há a seguinte metáfora: Viver
é plantar. Todo o discurso do Padre Fábio de Melo é cerceado pela ideia de
que as atitudes e escolhas do homem direcionam-no a um determinado caminho, que
pode ser bom ou mau. Em se tratando das antíteses, marcas textuais do sermão,
Padre Fábio de Melo adota palavras como felicidade e infelicidade. “Felicidade talvez seja isso:
alegria de recolher da terra que somos frutos que sejam agradáveis aos olhos! Infelicidade, talvez seja o contrário”.
Outra passagem
que se destaca no sermão de Padre Fábio de Melo é a citação da bíblia que,
certamente, reforça a argumentação exposta pelo orador e retoma à temática do
discurso.
Para cada dia, o seu empenho. A sabedoria bíblica
nos confirma isso, quando nos diz que “debaixo do céu há um tempo para cada
coisa!”.
As escolhas lexicais de Padre Fábio de Melo, por sua vez, criam uma
constante mensagem argumentativa com o objetivo de persuadir seus
interlocutores. O uso de verbos no modo imperativo acrescenta ao sermão um
caráter extremamente subjetivo.
Por isso, não perca de vista o que você anda
escolhendo para deixar cair na sua terra. Cuidado com os semeadores que não lhe
amam. Eles têm o poder de estragar o resultado de muitas coisas.
A anáfora da palavra cuidado, usada repetidas vezes em diferentes
parágrafos, também endossa a ideia de persuasão (Exemplos: Cuidado com as palavras mentirosas; Cuidado com as vozes).
No sermão da Sexagésima do Padre Antônio Vieira,
por sua vez, há a temática religiosa com a utilização de parábolas a fim de que
o público alvo seja persuadido. Mestre da oratória com grande poder de
argumentação, Pe. Vieira faz uso da metalinguagem, ou seja, reflete sobre a
arte de pregar por sermões ao mesmo tempo em que prega o próprio sermão.
O sermão da Sexagésima, além de passar aos
cristãos a palavra de Deus, também foi uma maneira que Pe. Viera encontrou para
fazer críticas por meio de metáforas irônicas e trocadilhos de palavras,
severas críticas ao Frei Domingos de S. Tomas, como mostra o trecho a seguir.
Ah, Pregadores! Os de cá,
achar-vos-eis com mais Paço; os de lá, com mais passos (...) Entre os
semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros que semeiam sem
sair.
Tal estilo é o mesmo de pregar de Jesus.
Percebe-se a sonoridade na escolha das palavras e comparações. Com essa
metáfora, Pe. Antônio Vieira dá a ideia de que os missionários devem sair de
suas casas (pátrias) para professar a fé, comparando-se a Cristo, que saiu para
semear a palavra de Deus em vários lugares diferentes, e conquistando assim
mais fiéis a sua igreja.
No instante em que Pe. Vieira usa a palavra Paços
e depois passos (no sentido de caminhar), ele enfatiza a ideia de que há os que
realmente caminham e os que preferem outro Paço, isto é, os das praças de sua terra
Natal.
No decorrer do discurso e na escolha
das metáforas, observa-se também que Pe. Vieira fala de vocação. Em E se
quisesse Deus que este tão ilustre e tão numeroso auditório saísse hoje tão
desenganado da pregação como vem enganado com o pregador! Ouçamos o
Evangelho e ouçamo-lo todo, que
todo é do caso que me levou e trouxe de tão longe, Pe. Antônio
Vieira começa sua argumentação de forma hipotética (E se quisesse Deus);
apresenta sua doutrina, persuadindo o ouvinte e, por meio da parábola, que segue
retirada da Bíblia (parábola do semeador), ele parte para o tema de sua
argumentação, reforçando também sua crítica de que ele saiu para semear ao
contrário de muitos missionários que não querem sair de sua pátria (Paços).
Usando a palavra todo, Pe. Vieira se
refere a Deus, querendo dizer que ele próprio não tem vontade enquanto
missionário, mas sim, faz a vontade de Deus, que é sair de sua pátria para
semear a palavra. Neste momento, é destacada uma comparação e até mesmo uma
certa vaidade de que ele próprio segue à maneira do Cristo, como neste exemplo: “Mas
daqui mesmo vejo que notais (e me notais) que diz Cristo que o semeador do
Evangelho saiu, porém não diz que tornou”.
Logo a diante, ele faz uso de uma
segunda parábola retirada da Bíblia: Ezequiel, I, 12. Pe. Vieira faz uso
de alegorias para sua argumentação e escolhe muito bem as antíteses e os
substantivos abstratos.
No trecho, A maior é a que se tem experimentado na seara aonde eu fui, e para onde venho. Tudo o que aqui
padeceu o trigo, padeceram lá os semeadores. Se bem advertirdes, houve aqui
trigo mirrado; trigo afogado, trigo comido, trigo pisado, nota-se a
ambiguidade do verbo pisar, empregado
no sentido de humilhar, ofender, insultar, magoar. Em Oh que grandes
esperanças me dá esta sementeira! Oh que grande exemplo me dá este semeador!, o padre invoca e enaltece o bom
santo, inspiração e exemplo de bom missionário que o levou a fazer tal
discurso.