CANAL LITERÁRIO

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quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

AS VIRGENS SUICIDAS - JEFFREY EUGENIDES



Editora: Companhia das Letras
Páginas: 231
Gênero: Ficção norte-americana

Sinopse
Num típico subúrbio dos Estados Unidos nos anos de 1970, cinco irmãs adolescentes se matam em sequência e sem motivo plausível. A tragédia ocorrida no seio de uma família que, em oposição aos efeitos já perceptíveis da revolução sexual, vive sob severas restrições morais e religiosas, é narrada pela voz coletiva e fascinada de um grupo de garotos da vizinhança.

RESENHA

Adaptado ao cinema por Sophia Coppola, publicado em 34 idiomas e agora em nova tradução brasileira, o livro de estreia de Jeffrey Eugenides rapidamente se tornou um cult da literatura norte-americana contemporânea. Grande parte desse sucesso se deve a sua prosa virtuosística, com um gosto por detalhes que dá às descobertas banais dos narradores – um armário cheio de cosméticos, um absorvente na lixeira do banheiro – uma vivacidade incomum.

"Um ano tinha se passado e ainda não entendíamos nada. De cinco, as meninas se reduziram a quatro, e todas elas - as vivas e a morta - estavam se torando sombras. Nem mesmo a coleção de pertences variados disposta aos nossos pés serviam para reafirmar sua existência, e nada parecia mais anônimo que uma certa bolsa de vinil, coberta de correntes douradas, que podia ter pertencido a qualquer uma das meninas ou a qualquer menina no mundo." Página 174.

A estória dessas cinco adolescentes é narrada por um grupo de meninos, que trazem à tona lembranças de fatos que ocorreram no período em que se seguiram às mortes. O “nós”, narrado na primeira pessoa do plural, é a presença de uma multiplicidade de vozes e consciências independentes, regidas pelo autor-criador em seu romance, sendo a consciência criadora aparentemente alheia às consciências individuais das personagens.
Por meio dessas lembranças, somos convidados a conhecer parte da estória dessas irmãs suicidas. Mas não do ponto de vista das meninas. Os motivos pelos quais elas se suicidaram é apenas sugerido pela visão do grupo.
As irmãs Lisbon exerciam fascínio nos garotos da sua rua e da escola. Principalmente a menina Lux Lisbon. A idealização da figura de Lux, a mais rebelde das irmãs, fará com que a personagem seja a nossa heroína trágica, personificando todas as outras quatro irmãs. Lux é a que vai lutar mais intensamente contra as restrições impostas pela mãe religiosa. Eram proibidas de usar maquiagem, ir às festas, sair de casa. No entanto, elas ousavam ir à escola maquiada, suspender a barra da saia, fumar e ouvir rock.
A primeira irmã a cometer suicídio e ganhar enfoque na estória é Cecília. Com apenas treze anos de idade e um jeito totalmente inusitado de se vestir, Cecília se suicida sem deixar nada que possa responder o porquê de seu ato.

Segue-se um período nebuloso para as meninas Lisbon, para os garotos e para a comunidade. Há um sentimento de que algo muito importante está acontecendo na vida dos jovens americanos daquela época, mas ninguém propõe um diálogo para saber o que de fato está acontecendo e nem por que aconteceu o suicídio da menina Cecília. E é essa incapacidade de ler as meninas Lisbon, que torna a narrativa mais misteriosa, deixando lacunas para a imaginação do grupo de narradores e para o leitor. Um livro excelente. Adorei.