Editora: Companhia das Letras
Páginas: 231
Gênero: Ficção norte-americana
Sinopse
Num típico subúrbio dos Estados Unidos nos anos de 1970,
cinco irmãs adolescentes se matam em sequência e sem motivo plausível. A
tragédia ocorrida no seio de uma família que, em oposição aos efeitos já
perceptíveis da revolução sexual, vive sob severas restrições morais e religiosas,
é narrada pela voz coletiva e fascinada de um grupo de garotos da vizinhança.
RESENHA
Adaptado ao cinema por Sophia
Coppola, publicado em 34 idiomas e agora em nova tradução brasileira, o livro
de estreia de Jeffrey Eugenides rapidamente se tornou um cult da literatura
norte-americana contemporânea. Grande parte desse sucesso se deve a sua prosa
virtuosística, com um gosto por detalhes que dá às descobertas banais dos
narradores – um armário cheio de cosméticos, um absorvente na lixeira do
banheiro – uma vivacidade incomum.
"Um ano tinha se passado e ainda
não entendíamos nada. De cinco, as meninas se reduziram a quatro, e todas elas
- as vivas e a morta - estavam se torando sombras. Nem mesmo a coleção de
pertences variados disposta aos nossos pés serviam para reafirmar sua
existência, e nada parecia mais anônimo que uma certa bolsa de vinil, coberta
de correntes douradas, que podia ter pertencido a qualquer uma das meninas ou a
qualquer menina no mundo." Página 174.
A estória dessas cinco adolescentes é narrada por um grupo
de meninos, que trazem à tona lembranças de fatos que ocorreram no período em que
se seguiram às mortes. O “nós”, narrado na primeira pessoa do plural, é a
presença de uma multiplicidade de vozes e consciências independentes, regidas
pelo autor-criador em seu romance, sendo a consciência criadora aparentemente
alheia às consciências individuais das personagens.
Por meio dessas lembranças, somos convidados a conhecer
parte da estória dessas irmãs suicidas. Mas não do ponto de vista das meninas.
Os motivos pelos quais elas se suicidaram é apenas sugerido pela visão do
grupo.
As irmãs Lisbon exerciam fascínio nos garotos da sua rua e
da escola. Principalmente a menina Lux Lisbon. A idealização da figura de Lux,
a mais rebelde das irmãs, fará com que a personagem seja a nossa heroína
trágica, personificando todas as outras quatro irmãs. Lux é a que vai lutar
mais intensamente contra as restrições impostas pela mãe religiosa. Eram
proibidas de usar maquiagem, ir às festas, sair de casa. No entanto, elas
ousavam ir à escola maquiada, suspender a barra da saia, fumar e ouvir rock.
A primeira irmã a cometer suicídio e ganhar enfoque na
estória é Cecília. Com apenas treze anos de idade e um jeito totalmente
inusitado de se vestir, Cecília se suicida sem deixar nada que possa responder
o porquê de seu ato.
Segue-se um período nebuloso para as meninas Lisbon, para os
garotos e para a comunidade. Há um sentimento de que algo muito importante está
acontecendo na vida dos jovens americanos daquela época, mas ninguém propõe um
diálogo para saber o que de fato está acontecendo e nem por que aconteceu o suicídio
da menina Cecília. E é essa incapacidade de ler as meninas Lisbon, que torna a
narrativa mais misteriosa, deixando lacunas para a imaginação do grupo de
narradores e para o leitor. Um livro excelente. Adorei.