PARA
QUEM VALEM AS REGRAS?
O livro A norma oculta: língua &
poder na sociedade brasileira (Parábola Editorial, 2003, 200p.), do linguista
Marcos Bagno, está organizado da seguinte maneira: um prólogo, três capítulos e
um epílogo.
O prólogo, intitulado Mídia,
Preconceito e Revolução, chama atenção para o fato de alguns jornalistas terem
criticado a forma de falar do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva,
simplesmente por ele não usar a norma padrão imposta pela gramática normativa.
Em nossa sociedade o uso da
gramática normativa é posto como uma regra que jamais pode ser quebrada e quem
se comunica através de formas estigmatizadas não está apto a ocupar cargos
importantes.
Bagno afirma que o preconceito é
muito mais um preconceito de ordem social, já que a língua é parte constitutiva
da identidade do indivíduo.
Na primeira parte do livro _ Por que
norma¿ Por que Culta¿ Bagno critica as gramáticas. Segundo ele, estão
descontextualizadas, pois optam pela literatura como modelo de língua culta e
discriminando as outras variedades linguísticas do povo brasileiro.
Na segunda parte do livro – Um pouco
de história: o fantasma colonial e a mudança linguística, Bagno mostra, através
da história, a origem das discrepâncias entre a norma padrão e o português
brasileiro efetivamente usado no dia a dia, além disso, aborda outras questões,
como a baixa autoestima linguística e o papel político dos linguistas diante do
quadro atual.
Na terceira parte do livro – Por uma
gramática do português brasileiro, o objetivo principal do autor é reforçar a
ideia de que as gramáticas existentes não são ideais. Bagno avalia que seria
necessário uma reformulação na gramática existente, ou seja, que se produzisse
uma gramática realmente brasileira, preparada por pesquisadores comprometidos
com a realidade linguística do Brasil.
No epílogo – Norma (o)culta, a
gramática não-escrita, o autor faz uma breve retomada sobre a ideia principal
do livro e justifica o jogo ideológico que está por trás da escolha do título
do livro. Reforça que existe um conjunto de regras linguísticas apoiada no mito
de que o conhecimento da norma culta é garantia suficiente para a inserção do
indivíduo na categoria dos que sabem falar e, por isso, têm direito à palavra.
Conclusão
A partir da leitura de Bagno a
concepção do que é certo e o que é errado faz parte de uma linha muito tênue na
significação da própria palavra erro. Afinal, acreditar que falamos errado é
crer que somos todos errados. É desconsiderar as características de um povo, é
desmerecer sua história.
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