Editora: Intrínseca
Gênero: Young Adult
Páginas: 209
Sinopse: Foi há quarenta anos, agora ele lembra muito
bem. Quando os tempos ficaram difíceis e os pais decidiram que o quarto do alto
da escada, que antes era dele, passaria a receber hóspedes. Ele só tinha sete
anos. Um dos inquilinos foi o minerador de opala. O homem que certa noite
roubou o carro da família e, ali dentro, parado num caminho deserto, cometeu
suicídio. O homem cujo ato desesperado despertou forças que jamais deveriam ter
sido perturbadas. Forças que não são deste mundo. Um horror primordial, sem controle,
que foi libertado e passou a tomar os sonhos e a realidade das pessoas,
inclusive os do menino. Ele sabia que os adultos não conseguiriam — e não
deveriam — compreender os eventos que se desdobravam tão perto de casa. Sua
família, ingenuamente envolvida e usada na batalha, estava em perigo, e somente
o menino era capaz de perceber isso. A responsabilidade inescapável de defender
seus entes queridos fez com que ele recorresse à única salvação possível: as
três mulheres que moravam no fim do caminho. O lugar onde ele viu seu primeiro
oceano.
A história começa a ser narrada pelas lembranças do
protagonista, um homem de 40 anos. Há um salto no tempo e no capítulo seguinte
o menino de sete anos de idade, o qual o autor não nomeia, irá relatar fatos
importantes que aconteceram em sua infância. Uma curiosidade interessante é o
fato do autor não dar nome ao menino. Há uma metáfora para a palavra
menino/criança/7 anos de idade. O autor convida o leitor a uma reflexão sobre o
que acontece na vida de um menino nessa idade, com todas as peculiaridades que
lhe são inerentes. Temos um menino que lê, mais do que os outros da sua idade e
que tem poucos amigos.
“As memórias de infância às vezes são encobertas e
obscurecidas pelo que vem depois, como brinquedos antigos esquecidos no fundo
do armário abarrotado de um adulto, mas nunca se perdem por completo”. (pág.
14)
Por meio de acontecimentos fantásticos e situações
sobrenaturais, Neil Gaiman vai falar sobre carência verbal, afetiva, violência,
confiança e principalmente sobre o que é ser adulto. Há o conflito fantástico
do enredo, mas o conflito que permeia a história é a sua relação com o pai, no
qual o autor vai desenvolver situações de negligência e omissão. Parte-se da
ideia de que só um dos dois poderá sobreviver. O trecho em que o pai tenta
afogar o menino na banheira e o menino, por sua vez, luta por sua vida puxando a
própria vida pela gravata do pai (Gravata é um ícone masculino), corrobora com a ideia de uma situação edipiana. A figura do pai ficará subentendida ao final do livro por meio de um velório não explicitado pelo narrador, mas que é a justificativa para que ele esteja novamente ao lugar de sua infância. Por
ser narrado em 1ª pessoa, temos apenas a visão de mundo do menino, sugerindo
que há pontas na história que o adulto narrador não quis revelar.
“Vou dizer uma coisa importante pra você. Os adultos
também não se parecem com adultos por dentro. Por fora, são grandes e
desatenciosos e sempre sabem o que estão fazendo. Por dentro, eles se parecem
com o que sempre foram. Com o que eram quando tinham a sua idade. A verdade é
que não existem adultos. Nenhum, no mundo inteirinho.” (pág. 130)
O autor constrói aforismos no decorrer da narrativa
para causar efeito poético ao texto e, intencionalmente, equilibrar os
sentimentos obscuros que se passam ao longo do enredo.
Uma outra metáfora importante que sugere esse
turbilhão de emoções conflitantes entre “bem e mal”, “real e fantástico”
sentidos pelo menino, está no fato do seu coração ser ponte entre um mundo e o
outro, ente o passado e o presente, entre o adulto e a criança. Ele é o portal
para o verme que entrou no mundo pelos seus pés. Outra metáfora intrigante.
Gostaria de poder estuda-lo mais a fundo futuramente.
Há muitas simbologias no livro. A questão das duas luas, do lago/ oceano.
Gostei muito desse livro do Gaiman. Achei um livro muito rico de significados.
Vale a pena ser lido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário